Bibliografias Recomendadas


Livro: “Marta e Maria” – Uma leitura um pouco diferente da ação e da contemplação. Editora Vozes, 2010
O autor: carmelita descalço Vojtech Kodet, de nacionalidade Checa  -  doutor em espiritualidade pela Universidade “Theresianum”, em Roma.
Título do original:
Marta e  Maria: uma lettura um po’diversa: come vivere com Dio in um mondo senza Dio. (como viver com Deus num mundo sem Deus)

Acentos principais da argumentação do autor:

1. O pano de fundo do argumento trata da unidade do ser humano (corpo, espírito – alma, mente), integralmente homem e mulher, dentro de uma análise considerando a evolução de influências de grandes filósofos gregos como Platão (427-347 aC) e Aristóteles (384-322 aC) sobre o pensamento ocidental europeu e sobre a elaboração da síntese cristã católica ao longo de séculos. Platão, com sua influência (sobre Sto. Agostinho e a partir dele, por ex.) quase que predominante por praticamente 14 séculos. Aristóteles, a partir daí na monumental obra filosófico-teológica de Sto. Tomás de Aquino (1228-1274), fortemente até as décadas próximas ao Concílio Vaticano II (1962-1965), mas sempre presente no pensamento católico em sua estrutura geral de reflexão. Ambos, presentes nas formulações que configuraram o universo conceitual do catolicismo europeu e, por ele, do ocidente. Esta unidade de que trata o autor vai assentar as bases de uma ampliação do axioma aristotélico-tomista segundo o qual – na sua formulação latina – ‘nihil est in intellectu quod prius non fuerit in sensibus’ – nada existe no espiritual do homem que não tenha passado pelos sentidos de alguma forma. Depois disso, sim, o homem é capaz de associar, deduzir, concluir, chegar a algo mais na sua compreensão da realidade, sendo ela própria a base segura do processo.

2. Dentro desse contexto e a partir de uma interpretação errônea formulada por um autor cristão, Orígenes (+253)  -  e outros, ao texto evangélico que narra o encontro de Jesus com Marta e Maria na sua casa em Betânia (Lucas 10,38-42), teve início um processo interpretativo com distorções graves pelas consequências sócio-eclesiais e pastorais que marcaram por séculos a Igreja e ainda estão fortemente presentes apesar das correções assumidas no século passado. Convém se realizar uma leitura do texto evangélico para facilitar a compreensão do que se vai indicar a seguir, sobre as consequências dessas interpretações errôneas na elaboração de verdadeiras ideologias desprovidas de base evangélica.

3. Outras deduções foram tiradas ainda, como a superioridade de Maria sobre Marta, e então, de cristãos mais dignos que outros.

4. E mais ainda, se deduziu a personificação de dois diferentes modos de vida de cristãos: o monacal (monges nos mosteiros) e o laical (demais cristãos que vivem no mundo). E o pior: os primeiros, vistos como mais completos, verdadeiros.
Essas duas classes de cristãos  -  quer dizer, ascetas e não-ascetas (monges e leigos) seriam diferentes em natureza: os monges viviam uma vida sobrenatural porque a eles não se admitia o matrimônio, a geração de filhos, a posse de bens e riquezas. Isto, estruturado em costumes e leis eclesiásticas e sociais num período cultural europeu de “cristandade” ainda mais constrangiam as pessoas e formavam suas consciências.
A conseqüência inevitável de tal compreensão entre “aqueles que escolhiam a melhor parte” era de que eram superiores aos outros. E aos demais leigos sobrava um complexo de inferioridade, porque vivendo no mundo eram considerados cristãos de segunda categoria.

5. Daí não demorou para o matrimônio não ser concebido como um lugar, uma circunstância, para se viver uma experiência do amor de Deus através do amor humano, nem como espaço para colaboração com Deus (p.90). Mais ainda, nem qualquer outra relação entre humanos foi considerada como lugar dessa experiência; aliás, relações essas vistas em geral com suspeição pelos confessores e diretores de consciência, à época principais instrumentos de formação cristã.

6. Das consequências de tais interpretações errôneas de Orígenes e outros tantos  -  porque anti-evangélica  -  não escapou também a compreensão do sentido do trabalho humano, visto como penitência, quando não até como castigo imposto por Deus (cf. Gn 3), e não como ocasião de participação na obra da Criação do Senhor, nem como instrumento de transformação do mundo e da sociedade conforme o plano divino, ou como meio importante e até necessário para o ser humano se auto-realizar enquanto co-criador do universo.

7. Desenvolveu-se sobretudo a partir do IV século a mentalidade de “fuga do mundo” (latim, ‘fuga mundi’)  -  desprezo do mundo  -  que mal compreendida e pregada impediu de cristãos assumirem suas responsabilidades para com o mundo. Por outro lado, esse desprezo fez com que se desse as costas ao encontro com Deus no cotidiano da vida comum, fora de uma atividade expressamente ‘religiosa’, o sagrado restrito apenas aos ritos religiosos, o resto da vida seria ‘profano’, ausente de Deus. Não se via que Jesus não fugiu do mundo, apenas dele retirava-se de vez em quando para rezar em solidão (cf. Lc 5,16); e, muito pelo contrário, queria que seus discípulos ficassem no meio do mundo (Jo 17,11.14.-15) no lugar onde foram chamados à fé (1Cor 7,20).

8. A desvalorização do corpo humano: sob várias formas, como, as ‘mortificações’ de todos os prazeres e das necessidades corporais... até o abandono das relações (espirituais) familiares, a renúncia à própria vontade e chegou-se até a exigir a renúncia da instrução leiga, considerada sabedoria mundana; (e por que não, também a catequética e espiritual, quando o acesso às fontes da revelação esteve por séculos restrito a poucos senão vedado de todo pela barreira do latim ou do sexo?). O celibato e a virgindade foram considerados como ideal da vida cristã, identificação distante do evangelho.

9. O cristão que vivia no mundo (chamado de leigo em contraposição ao clérigo), foi considerado como um débil pois havia escolhido a mediocridade, a sujeição à carne, ou, quando muito, contentando-se em viver “com o coração dividido” (p.81).

10. Através da Idade Média e toda a Escolástica até a teologia dos Conselhos Evangélicos para os ‘eleitos’ e o privilégio absoluto atribuído ao celibato, tudo isso esteve e de certa forma ainda está fortemente presente até meados do século 20.
O autor apresenta uma síntese da literatura anterior ao Concílio relativa ao assunto (p.70). Apresenta ainda a resposta do Concílio em vários de seus documentos (p.75).
Assim, só com o Concílio Vaticano II (1962-1965) vamos encontrar posicionamentos indicativos de alguma reação, mesmo assim ainda a meio de outros tantos textos indecisos ou ambíguos. Apesar de tudo, encontramos no Cap.7 do livro em questão, intitulado “Senhor, ensina-nos a viver” os posicionamentos mais felizes do Concílio que passam a nortear a vida da grande massa de cristãos “pessoas de vida ordinária” no dizer de Madeleine Delbrel (Em seu artigo citado à p.73,“Nous autres, gens de rues”).

10. Finalmente, o Papa João Paulo II na encíclica “Deus cáritas est” (Deus é amor) encerra a questão e corrige uma parte do passado. Em suas catequeses disse que o matrimônio não é inferior em valor ao celibato. Que a perfeição cristã não pode ser medida segundo o grau de abstinência sexual, mas sua medida é o amor. As palavras de Cristo não nos dão nenhum motivo para defender a superioridade da virgindade e do celibato em comparação com o matrimônio. Não existe uma classe mais perfeita e outra classe menos perfeita.

11. No citado Cap.7, no parágrafo sobre “o amor indivisível”, o autor sintetiza a atitude que Jesus espera do cristão indicada pela cena da casa de Betânia:
            “Os discípulos viviam cada dia com Cristo e podiam, desse modo, aprender a viver com Ele, e entender como agir também em situações mais ordinárias, que fazem parte da vida de cada um de nós; mas, sobretudo, viam o seu modo de relacionar o amor do Pai com o amor do próximo, ou seja, a fundir aquilo que para nós é tão complicado: a vida de oração e o serviço aos outros ou a qualquer atividade relacionada ao trabalho. Viam como conseguia viver de coração aquele amor indivisível a Deus e ao ser humano e estar plenamente, completamente na vontade de Deus e contemporaneamente estar aberto àqueles a quem servia. Seu coração era pleno de amor, seja ao Pai seja ao povo... tudo isso pode iluminar o nosso caminho.”

O Concílio reintroduziu exatamente o primado evangélico do amor na vida cristã (LG33). Como ensinava São João da Cruz, no século 16  -  doutor da Igreja e grande teólogo místico  - ao entardecer da vida seremos julgados sobre o amor. E Santa Teresa d’Ávila  -  igualmente doutora da Igreja e mística  -   na mesma época ensinava: “Sem amor, coisa alguma vale nada”, nem mesmo a oração; conforme seus ensinamentos Marta e Maria devem andar juntas na vida de um cristão. E a mesma Santa Teresa no seu mais importante resumo da vida de oração escreveu: "Entendamos, filhas minhas, que a verdadeira perfeição é o amor de Deus e ao próximo. Quanto mais fielmente guardarmos esses dois mandamentos, tanto mais perfeitas seremos. A nossa Regra e as nossas Constituições, em seu conjunto, não servem senão de meios para seguir isso com mais perfeição" - (1ªs Moradas 2,17).
Ao final, conclui o autor do livro: o que decide a vida do cristão é a fé, que se expressa com um amor indivisível a Deus e ao próximo. Enfim, o que conta mesmo é a centralidade do “Shemá Israel” (Dt 6,5; Lv 19,18; Tb 4,15) radicalizado por Jesus no Sermão da Montanha com seu mandamento novo (Mt 7,12; 22,34-40; Jo 15,12; 13,34).

12. O livro é de grande valor para a realização de uma vida cristã evangélica. É de fácil leitura. Seu módico custo (R$12,00) não representa impedimento a nenhum leitor. Aconselho sua leitura às lideranças leigas da pastoral, especialmente à formação de catequistas, e por que não também aos jovens seminaristas, religiosos e padres.

Resenha realizada por Gustavo Castro





(*) São João da Cruz é o teólogo que não envelhece. Ele não é um teórico dos caminhos da espiritualidade, mas alguém que, tendo-se decidido a procurar a Deus e a entrar em comunhão com ele, põe-se a caminho e canta, com alegria, a difícil aventura da fé. Não se contenta com pequenas descobertas ou com encontro sentimental com o infinito.







(*) O autor deste livro se mostra aqui um dos mais importantes discípulos de santa Teresa de Lisieux deste século, sublinhando que santa Teresa era autêntica contemplativa, devido à sua grande pobreza na oração e em toda a vida espiritual, vivendo de fé, como perfeita discípula de são João da Cruz.







(*) Não é fácil adaptar aos tempos atuais os escritos de mestres espirituais do passado. Ainda mais em se tratando das obras de Santa Teresa de Jesus, que nem sempre seguem um plano previamente estabelecido. A compreensão da estrutura íntima de suas concepções geniais depende do grau de familiaridade que temos com seu pensamento. Neste livro o Autor consegue o objetivo. Ajuda os leitores a compreender melhor a unidade profunda do pensamento de Teresa de Jesus, suas idéias mestras, a síntese doutrinal e as maravilhosas riquezas contidas em seus escritos.







 
(*) O autor busca, num primeiro momento, apresentar certas circunstâncias que exerceram forte influência na vida de Santa Teresa de Ávila, a ponto de delinearem a fisionomia de sua oração e espiritualidade.















(**) Esse livro sobre a oração teresinana foi meditado, refletido e posto à prova em anos de experiência nos mais diversos ambientes. É livro necessário para entender a experiência e o ensino de Teresa de Ávila sobre a oração cristã. A oração é a espinha dorsal da obre de Teresa, cujos traços fundamentais são: experiência, doutrina, pedagogia, unidade de vida. No centro, Cristo, Amigo e Mestre, e a pessoa em oração, incessantemente convidada a fazer-se discípulo ou discípula em uma história de amizade.







(***) Assim como o abandono supõe o silêncio, o silêncio, por sua vez, pressupõe a luta. "Se quer a paz, prepare-se para a guerra", ensina Tito Lívio. Entender este conselho literalmente pode ser perigoso, mas aplicá-lo à luta espiritual é de importância extrema. Esta luta é amplamente descrita em A Subida do Monte Carmelo. Na realidade devia-se ler a Subida paralelamente com a Noite escura. Nesta última, São João descreve o que Deus faz com você; na Subida, ao contrário, você mesmo tem a possibilidade de ler o que tem de fazer para se abrir para Deus.
Os dois livros tratam do mesmo caminho, mas a partir de dois pontos de vistas diferentes: que é que você deixa fazer e que é que você mesmo faz. Torna-se clara a diferença no título e na imagem dos dois livros. A noite vem de cima, "cai" sobre você. A Subida, pelo contrário é um movimento ascendente que exige esforço e ativo engajamento. Esse duplo esforço é chamado ascese. 






(**) Os desafios da nova evangelização estão fazendo brotar uma nova espiritualidade que, por sua vez, está configurando e sustentando os compromissos dos agentes de pastoral em toda a extensão da América Latina. Trata-se de uma espiritualidade de inserção por se ter gerado, precisamente, no contato com o povo pobre e marginalizado, reunido nas comunidades eclesiais de base. Trata-se de uma espiritualidade da nova evangelização por responder à exigência de encarnação e inculturação. É uma espiritualidade que se vai gestando na história de nossos povos a na nossa, pessoal. 




(**) Sal da terra e luz do mundo, na Igreja e na sociedade! Os cristãos leigos e leigas receberam, pelo Batismo e pela Crisma, a graça de serem Igreja e, por isso, a graça de serem sal da terra e luz do mundo (Mt 5, 13-14).





(*) Sinopses constantes do site da Editora Paulus
(**) Sinopse constante da publicação
(***) Sinopse constante do site "Armazém Católico"

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